No mês de julho a cidade de Curitiba recebeu bicicletas compartilhadas com sistema inédito, a responsável por esta iniciativa foi a Prefeitura da cidade. O serviço foi distribuído em 20 estações, em diversos endereços da cidade, as bikes podem ser deixadas em qualquer ponto dentro deste perímetro tornando a experiência do usuário mais prática e sem complicações.

Este serviço fortalece a ciclomobilidade como componente relevante do transporte público e representa uma porcentagem da economia compartilhada. Mas afinal, o que é economia compartilhada? O termo surgiu faz aproximadamente uma década, e está diretamente relacionado ao “consumo colaborativo”.

Em um artigo publicado no The Guardian, o colunista na área de tecnologia Ben Tarnoff ressaltou dois principais acontecimentos para que pudéssemos entender de maneira simples esta tendência de consumo, que podemos resumir em três palavras-chave: tecnologia, economia e relacionamento. Vamos analisar:

1. Lançamento do iPhone

O iPhone é o primeiro modelo de smartphone desenvolvido e comercializado pela Apple. O lançamento oficial foi anunciado em janeiro de 2007 e, além de ser considerado um produto disruptivo se comparado às tecnologias da época, pois possibilita o acesso a internet e o uso do GPS de maneira prática e rápida, é o fator principal para entendermos um pouco melhor sobre a economia compartilhada.

2. Crise econômica

Além da facilidade de se conectar através do uso de smartphones, outro fator a se considerar neste contexto é a crise econômica de 2007 que ocorreu nos Estados Unidos, que também trouxe consigo mudanças de comportamento. Os consumidores sentiram-se inseguros pois estavam distantes de ter uma estabilidade financeira e consequentemente passaram a comprar apenas o necessário, fato que interferiu diretamente no fluxo financeiro do país e da economia mundial. Diferente do que víamos no início do capitalismo, onde consumir de maneira exagerada com objetivo de garantir suas propriedades materiais era o ideal, a crise econômica acabou moldando, sem pretensão alguma, um novo perfil do consumidor, gerando um consumo mais consciente.


Tais acontecimentos ocorreram simultaneamente, o que facilitou o processo de transformação e desenvolvimento deste estilo de consumo. Podemos exemplificar isso ao analisar o cenário da época: os consumidores estavam à procura de novas formas de economizar e do outro lado estavam as empresas, buscando novas maneiras de ganhar dinheiro para não irem à falência. Eis que surgiu uma oportunidade de negócio para as empresas que conseguiram perceber essa relação complementar.

Após analisar este contexto, podemos apontar as marcas que se mantiveram atentas a este movimento de transformação de mercado, oferecendo serviços inovadores e construindo a base da economia colaborativa, como por exemplo: Pinterest e Dropbox.

O conceito de compartilhar produtos ou serviços se tornou uma proposta de valor quando aplicado em situações inovadoras.

Vamos imaginar que um modelo de negócio das lavanderias se expandisse para outros segmentos de mercado, onde apenas um investidor mantivesse as propriedades (as máquinas de lavar roupa) e você só pagaria quando utilizasse, tornando o serviço econômico e consequentemente gerando lucro para empresa. Não precisamos ser especialistas em economia para afirmar que, quanto mais clientes frequentassem a lavanderia maior seria o lucro, uma vez que as despesas estariam sendo divididas em pequenas partes entre cada cliente.

É uma conta fácil e se bem planejada pode ser aplicada com êxito em diversos produtos e nichos do mercado. Foi o que ocorreu com algumas startups “de partilha” como Uber e Airbnb, que se tornaram referências por oferecer um serviço compartilhado e uma experiência única para os usuários.

Imagine a facilidade de poder passear de helicóptero por São Paulo pagando apenas 66 reais ou acampar em uma cabana de luxo nos Alpes Ocidentais. Com o conceito de economia compartilhada, essas marcas apostaram neste novo modelo de consumir, optando por alugar e não mais oferecer um produto em que você seria proprietário. Esse sistema funcionou tão bem que hoje o Uber se tornou a maior empresa de transporte coletivo sem possuir nenhum veículo, assim como a Airbnb uma das maiores redes de hospedagem sem dispor de nenhum hotel.

Além das marcas citadas, outros cases de sucesso que utilizam o modelo da economia compartilhada são:

  1. Netflix – que é uma plataforma online que disponibiliza produções originais de séries, filmes e outros produtos de entretenimento. O Netflix lança tendências de comunicação em suas redes sociais e as sugestões de títulos disponíveis no catálogo que transformam o algoritmo em uma experiência personalizada para quem é assinante.
  2. Spotify – também é uma plataforma online, mas com apenas um produto que são produções musicais. A captação dos dados de cada perfil são armazenadas pela empresa durante todo o período de assinatura e em uma ação de final de ano a marca disponibiliza um relatório dinâmico sobre suas músicas mais escutadas, estilos, descobertas e até sugere gêneros musicais que você nunca demonstrou interesse.
  3. Endossa – é um exemplo de marca que não está no ambiente digital, o espaço colaborativo é direcionado para empreendedores. O sistema de comércio inicia a partir do momento em que você aluga um “box” dentro da loja e expõe seus produtos, o que para você (empreendedor) é uma vantagem, pois você não precisa pagar por um espaço físico inteiro. A loja recebe esse capital mensalmente, além de garantir uma diversidade de produtos (pois cada box é destinado a uma empresa de diferentes segmentos).

Este conjunto de negócios baseado no capital intelectual, cultural e na criatividade que gera valor econômico que denominamos de economia compartilhada, faz parte da indústria criativa que produz receitas de exportação, promove o desenvolvimento humano e revoluciona a propriedade individual desde o nascimento do capitalismo.

Segundo a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), a área criativa gerou uma riqueza de R$ 155,6 bilhões para a economia brasileira em 2015, por meio de um estudo conhecido por “Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil” publicado em dezembro de 2016.

Conseguir analisar as mudanças de comportamento de consumo é uma tarefa que necessita comprometimento e dedicação, mas que ao pesquisar e planejar ações ou até mesmo mudanças de posicionamento da marca podem gerar resultados surpreendentes. E você, já teve alguma experiência com marcas que utilizam economia compartilhada?

Emanuelle Gomez | @manugome_z

Designer, especialista em design estratégico e inovação, apaixonada por tendências de consumo e experiência do usuário.

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